ACREDITEM: O BARATO ÀS VEZES SAI MUITO CARO!

Creio que a gente vem para o mundo com determinadas missões. A minha, quando recortamos apenas o aspecto profissional, é batalhar para que a minha profissão seja reconhecida como ciência que cuida dos distúrbios de linguagem oral e escrita, fala e audição, garantir que ela continue se desenvolvendo como está e que seja conhecido todos os seus aspectos e assim valorizada.

O profissional geralmente se forma e acaba passando uma vida inteira se aperfeiçoando, como é o meu caso e o de muitas de minhas colegas, para escutar tantas coisas, que às vezes passa pela minha cabeça, se valeu à pena. Daí, imediatamente me lembro de tudo que fiz nesses quarenta anos , todas as pessoas que consegui ajudar e a nuvem negra se afasta. Continuo tentando…

Queria então aproveitar para tratar de alguns pontos:

1. A anamnese ou primeira entrevista que nós realizamos com os pais é muito importante e fundamental para o bom desenvolvimento de nosso trabalho. É nela que ficamos conhecendo o desenvolvimento da criança, e através dessa consulta, muitas vezes conseguimos identificar até o agente causador da problemática. Além disso é nela que estabelecemos com os pais um contato de confiança mútuo. Mesmo que fosse só para tratar de assuntos burocráticos como tempo de trabalho, preço de consulta, etc…, que também fazem parte deste encontro, esta seria também necessária pois tudo que é combinado não lesa nenhuma das partes.

2. Acontece de muita gente ligar em nossos consultórios fazendo pesquisa de preços. Nós não tratamos mercadorias e sim de seres humanos, por isso temos que pensar na qualidade dos serviços que nos são oferecidos. Não é possível um profissional que se aperfeiçoa cobrar muito abaixo do preço de mercado, pois tudo nos é oferecido fora daqui e por um preço bastante alto. Além de isso manter um bom material para um bom padrão de atendimento nos custa bastante. Tudo isso fora os impostos que os profissionais liberais são obrigados a pagar no nosso Brasil. Não nos aborrece nem um pouco discutir os valores com os pais que tenham algum problema financeiro. O que nos aborrece é quando os pais desvalorizam o nosso trabalho dizendo-nos que ele é muito caro. Eu sou da opinião que nós não podemos atribuir valores para o trabalho de ninguém.

3. A crise econômica do país deixou nosso trabalho ainda mais difícil de ser realizado e concluído. Soube que escolas particulares estão oferecendo plantões para trabalharem problemas de escrita. A nossa ortografia é muito complicada e é muito bom que escolas se preocupem em deixá-la mais fácil para os seus alunos, porém soube que estão mantendo crianças com problemas pedagógicos e fonoaudiológicos em seus plantões e que os pais ficam tranqüilos porque a escola os livra de tratamentos específicos.

É para estes pais que ofereço o título deste meu texto. Cuidado!!!

Em relação aos problemas pedagógicos poderia fazer um discurso mas não o farei

deixando-o para meus colegas psicopedagogos. Mas, em relação aos fonoaudiológicos poderei lhes dizer que: nem sempre uma troca na escrita significa apenas uma troca na escrita. A troca na escrita pode ser apenas um sintoma de algum problema maior e por isso deve ser muito bem avaliada por profissional competente.

Nas primeiras séries, independente de plantões ou não, as crianças escondem muito as trocas ditas fonoaudiológicas e/ou auditivas. Elas vão aumentando no decorrer da segunda série e na terceira, porque o conteúdo abstrato diminui o tempo disponível da criança para manter uma atenção mais dirigida e também porque a velocidade da escrita aumenta, as trocas aparecem e com certeza se tornam bem mais difíceis de serem arranjadas.

É preciso que saibam que muitas vezes nos deparamos com crianças que enfrentam problemas na matemática, na história, geografia, etc… por terem dificuldade de interpretação que é a última estância do processo perceptivo e que depende, entre outras, de uma boa discriminação dos sons, cujos sintomas também podem aparecer na escrita em forma de simples trocas de letras.

4. É grande a dificuldade que tenho encontrado de explicar aos pais que às vezes os sintomas fonoaudiológicos são manifestações de problemas psiconeurológicos e/ou emocionais. Nestes casos não adianta nem a fonoaudióloga e muito menos a escola querer dar conta. São necessários encaminhamentos e trabalho multidisciplinar.

Às escolas e educadores peço para que a concorrência seja a saudável, clara e limpa. Que apesar da crise não prometamos o que não possamos cumprir. Que não usemos o fator financeiro para atrair clientes para nossos consultórios e sim os resultados positivos de nosso trabalho.

A vocês pais, se me permitem, mais um conselho: se informem a respeito do profissional que estão escolhendo para o seu filho.

Ana Ruth Mari